Após pouco mais de um ano, dólar volta a fechar abaixo de R$ 5

Ibovespa recua 0,38% com expectativa por reforma de IR do governo

Folha de São Paulo – 22.jun.2021 às 17h37 – Atualizado: 22.jun.2021 às 19h08

Depois de pouco mais de um ano, o dólar voltou a encerrar o pregão abaixo de R$ 5 nesta terça-feira (22). A moeda americana terminou as negociações cotada a R$ 4,9660, queda de 1,11%, segundo dados da CMA.

A última vez em que o dólar esteve abaixo de R$ 5 foi em 10 de junho de 2020, quando estava a R$ 4,935.

A desvalorização da divisa dos Estados Unidos é fruto de juros mais altos no Brasil. Em meio à escalada persistente da inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central considerou elevar ainda mais a taxa básica de juros na reunião da última quarta (16), mas decidiu manter o ritmo e anunciou alta de 0,75 ponto percentual.

Na ocasião, a Selic foi a 4,25% ao ano, conforme sinalizado em maio. Segundo a pesquisa Focus do BC, o mercado espera que a taxa termine 2021 a 6,50%, mesmo patamar da Selic antes do governo de Jair Bolsonaro.

Dentre emergentes, o real foi a terceira moeda que mais se valorizou nesta sessão, atrás apenas da lira turca e do florim húngaro.

Juros mais altos no Brasil tendem a beneficiar o real por estratégias de carry trade. Elas consistem na tomada de empréstimos em moeda de país de juro baixo (como o dólar) e compra de contratos futuros da divisa de juro maior (como o real). O investidor, assim, ganha com a diferença de taxas.

“A ata divulgada deixou ainda mais claro o compromisso do Copom em frear a inflação e elevou a expectativa por um ritmo mais acelerado de aumento da Selic, com as instituições financeiras revisando as expectativas para final de 2021 para 6,5% ao ano, lembrando que essa projeção estava para 2022”, diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Com o tom do texto do Copom, o Credit Suisse elevou a 1 ponto percentual a expectativa de alta dos juros em agosto, ante 0,75 ponto do cenário anterior. O banco agora vê Selic de 7,25% ao fim de 2021 e de 2022.

O Bank of America também elevou a estimativa para 7%, de 6,50%, e o Banco Fibra aumentou de 6% para 6,5%, mas vislumbrando risco de o BC conduzir a Selic a patamar contracionista ainda neste ano.

O Banco Fibra ainda fala em uma “janela de oportunidade” para o real entre junho e agosto, após a qual o dólar ficaria em R$ 5,30 ao fim do ano.

O Société Générale também parece pouco convicto de que a queda do dólar continuará. Estrategistas do banco francês entraram com posição comprada em dólar quando a moeda tocou R$ 5,06 e miram os R$ 5,70.

Com as perspectivas de uma Selic mais alta no curto prazo, os juros futuros subiram. Juros futuros são taxas de juros esperadas pelo mercado nos próximos meses e anos. São a principal referência para o custo de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.

O juro para abril de 2022 subiu de 6,16% para 6,34%.

“O aumento dos juros aumenta a valorização da moeda e estimula a entrada os investidores estrangeiros. Uma coisa que também pode ter um impacto no câmbio é a entrada forte dos investidores estrangeiros na Bolsa”, diz Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos.

Até 18 de junho, o mês tem uma entrada líquida de R$ 13,9 bilhões de recursos estrangeiros na Bolsa. No ano, são R$ 49 bilhões de aporte.

Outro ponto que contribui para um dólar menos elevado é a forte recuperação das economias de Estados Unidos e China e os preços das commodities estão em alta, beneficiando países exportadores, como o Brasil. Fora que a atividade econômica local tem se mostrado melhor que o esperado, com o mercado esperando um PIB (Produto Interno Bruto) maior neste ano.

​Nesta terça, a sessão foi de fraqueza para o dólar como um todo no exterior após declarações do presidente do Fed (banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, de que a inflação nos EUA seria transitória.

“Você tem um banco central que está comprometido com a estabilidade de preços e definiu o que é estabilidade de preços e está fortemente preparado para usar suas ferramentas para nos manter em torno de 2% de inflação”, disse Powell em audiência no Congresso, sinalizando que não espera uma inflação como a que o país viveu na década de 1970.

Com isso, ele amenizou temores de que o Fed possa em breve reduzir estímulos e acalmou investidores ainda sob impacto da sinalização de alta de juros em 2023, um ano antes do previsto até então.

A fala da autoridade impulsionou as ações em Nova York. O índice de tecnologia Nasdaq subiu 0,79% e renovou sua pontuação recorde. O S&P 500 teve alta de 0,55% e o Dow Jones, de 0,20%.

A Amazon foi uma das ações que impulsionou os ganhos em Wall Street, com alta de 1,5%. A empresa teve mais de US$ 5,6 bilhões em vendas online nos EUA no primeiro dia de seu evento promocional Prime Day, de acordo com o Adobe Digital Economy Index.

No Brasil, o Ibovespa não conseguiu acompanhar o viés positivo, pressionado pela queda de ações de bancos. O índice cedeu 0,38%, a 128.767,45 pontos.

A proposta de reforma do Imposto de Renda do governo, que deve ser enviada ao Congresso nesta semana e prevê a extinção do JCP (Juros sobre Capital Próprio) e a tributação de dividendos, levou ações de bancos a caírem nesta terça. Um dos principais atrativos destes papéis é justamente a remuneração aos acionistas via JCP e dividendos.

Principais empresas na Bolsa brasileira

O Itaú recuou 1,29% e o Banco do Brasil, 2,11%. Santander caiu 0,13%.
As ações preferenciais (mais negociadas) do Bradesco caíram 1,84% e as ordinárias, 1,19%.
Hoje, dividendos são isentos de IR e, segundo os planos do governo, passaria a serem taxados em 20%.

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Além da reforma do IR, o mercado de ações brasileiro foram impactadas pela perspectiva de uma Selic mais alta, o que tende a reduzir o consumo, aumentando o custo do crédito. A dona de shoppings Multiplan, por exemplo, caiu 2,65%.

A maior queda do Ibovespa na sessão foi a Tim (3,96%), em meio a receios sobre a decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) acerca da aquisição pelas empresas em conjunto com a Claro das operações de redes móveis da Oi. Vivo (Telefônica Brasil) perdeu 2,75%.

O GPA (Grupo Pão de Açúcar), por outro lado, subiu 2,9%, em meio especulações envolvendo a participação do Grupo Casino no varejista. Mais cedo, a dona da marca Pão de Açúcar disse que nenhum banco foi contratado e que não há processo de venda da fatia do Grupo Casino na companhia.

CVC ganhou 2,45%, após o conselho de administração aprovar aumento do capital social de até R$ 480 milhões, mediante a emissão de no máximo 25.104.603 ações para subscrição privada por R$ 19,12 cada uma.

Totvs fechou em alta de 2,42%, renovando máximas históricas. Relatório do Credit Suisse reiterou recomendação de compra para os papéis.

A Vale avançou 1,17%, apesar da queda dos preços dos contratos futuros do minério de ferro na China. No setor de mineração e siderurgia, destaque também para CSN, que valorizou-se 1,12% após anunciar programa de recompra de ações.

As ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras subiram 0,52%, apesar da fraqueza do petróleo no exterior. Segundo a agência de notícias Reuters, consórcios liderados pela 3R Petroleum e pela Seacrest Capital realizaram ofertas vinculantes por refinaria e diversos campos de petróleo da Petrobras.

Bitcoin
O bitcoin, por sua vez, teve um pregão volátil. A moeda digital chegou a ser negociada abaixo de US$ 30 mil, em uma queda de mais de 11%, pela primeira vez em quase cinco meses, pressionada pela nova campanha do governo da China contra criptomoedas.

A moeda, porém, inverteu a tendência de queda e encerrou o pregão em leve alta de 0,98%, a US$ 32.903,52 (R$ 163.399), segundo dados da Bloomberg. Na véspera, o bitcoin caiu 9%.

Os tombos foram desencadeado pelo banco central chinês, que disse aos maiores bancos e empresas de pagamento do país asiático para fiscalizarem com mais firmeza o comércio de criptomoedas.

As casas de câmbio de criptomoedas foram efetivamente empurradas para fora da China com uma mudança de regra em 2017, mas plataformas de balcão (OTC) baseadas no exterior surgiram para receber pagamentos de pessoas com residência na China e comprar criptomoedas em seu nome.

Após o comunicado do BC chinês na segunda, bancos como o Agricultural Bank of China e a onipresente plataforma de pagamento do Ant Group, Alipay, disseram que intensificariam o monitoramento para eliminar as transações com criptomoedas.

“Nós estamos definitivamente no meio de uma correção”, disse Anthony Wong, da empresa de criptomoedas Orichal Partners, com sede em Hong Kong. “Desta vez, a proibição com punho de ferro da China à criptomoedas parece ser mais séria do que em 2017, já que a diretriz veio direto do topo.”

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